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sábado, 4 de dezembro de 2010

Solidão

A chuva fina bate à janela numa suave canção. O sofá macio se estende sob o corpo relaxado, esperando. Esperando o telefone tocar, a mão lânguida pegar o aparelho e a voz sonolenta dizer "alô". A resposta do outro lado trazer um soluço à garganta e a vontade de chorar, de desabafar a certeza de não estar só. Que tem alguém que se preocupa, que pensa em você, e que sabe que você já ouviu todos os discos, já viu todos os filmes e que telefonou para perguntar como vai o cachorrinho ou quantas horas são no seu relógio. E então um silêncio em que se pode ouvir a respiração do outro lado, e podemos sentir as mãos se tocando, os olhos se fitando e ver que ele está lá, que se preocupou em lhe telefonar, mesmo que já tenha lhe visto de manhã, como se você tivesse partido há muito tempo. Conversa sobre coisas banais, mas que para nós vale ouro porque a gente fala um com o outro. E aí uma lágrima rolar dos seus olhos e cair nos ombros dele. E ele a secar com um beijo.

Mas a chuva cai e o telefone não toca, e a solidão aumenta porque já se ouviu todos os discos e se viu todos os filmes e o telefone não toca. A chuva cai, e cada gota é uma lágrima que molha o rosto porque não vem nenhum beijo secar, nenhuma palavra doce fazer sorrir, e chora. Chora porque não o viu de manhã e nem há muito tempo. Que dormiu com a noite, que viveu com o sonho e se foi com o dia.

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