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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tratado das Matérias II

Algumas matérias nos são prejudiciais. Precisamos delas, pois somente sabemos se algo é bom quando conhecemos um equivalente ruim.

Não somos obrigados a estudar tudo o que nos é apresentado cronologicamente. É permitido fazer matérias isoladas. Algumas nos interessam em especial e queremos conhecê-las a fundo. No entanto, nem sempre é possível. Há vários obstáculos no caminho daquele que quer se especializar. Um deles é a própria matéria, que tende a ficar complexa à medida que nos aprofundamos. É preciso ser firme em seu propósito. Esse processo necessita dedicação constante, por isso, só é possível o estudo de uma matéria de cada vez.

Outras nos passam como um raio. Matérias curtas que têm pouco a dizer e de cujo valor, às vezes, duvidamos. No entanto ele existe. Tais matérias costumam ser pré-requisito para outras maiores. Você só descobre isso mais tarde. Portanto, é preciso dar valor às pequenas matérias e aprender bem o pouco que trazem.

Existem matérias para distrair, como brinquedos pedagógicos. Mas essas não são constantes; evoluem e deixam de ser brinquedos, embora nunca os tenham sido.

Às vezes cismamos com uma matéria e queremos estudá-la. Isso acontece com as mais adiantadas. Se você estiver pronto para ela, se torna um estudo agradável. Mas se, por outro lado, for cedo demais, você corre o risco de interpretá-la mal e, quando for o tempo de estudá-la, você já terá ideias errôneas pré-concebidas. Portanto, é preciso cuidado no avanço de matérias.

Existem estudos que nos interessam, mas nos são vetados. Isso ocorre quando algumas matérias que cursamos nos prometem o conhecimento ali depositado, pois os apontamentos lhe são familiares. No entanto, com o passar do tempo, percebe-se que o que lhe é ensinado são interpretações do texto original. E interpretações são questões pessoais, e muito se perdeu no processo de distilação. E o que se perdeu por não ser necessário à matéria intermediária pode ser ponto essencial à nossa assimilação.

Há matérias das quais nos aproveitamos. Costumam ficar esquecidas na estante para serem consultadas vez por outra, geralmente quando nada temos para ler. São matérias mal exploradas, mas que insistem em estar lá. Assim como insistimos com certas matérias, algumas o fazem com a gente. Isso ocorre porque sabemos que, uma vez levadas a sério, se tornarão todo o nosso mundo, e nossa fome de saber nos faz fugir delas.

Existem matérias com as quais nos deparamos e que por entre as páginas nunca nos aventuramos. São livros de belíssimas capas e folhas macias. Porém não os estudamos, pois tememos que o que tenham a dizer maculem sua imagem. Essa hipótese não tem confirmação, pois ainda não venci meu medo.

No mundo do estudo há matérias que precisam ser cursadas e que, no entanto, são extremamente perigosas. Nesses casos, é preferível procurar o auxílio de matérias que tenham relacionamento com elas. Geralmente essa auxiliar ou intermediária é mais avançada e, como foi dito anteriormente, é preciso cuidado ao seguir esse curso.

BH - agosto - 1985

Em tempo: venci meu medo de estudar matérias que se apresentam através de lindos livros, e agora posso dizer que, às vezes, elas são sim decepcionantes. Outras vezes não. Cabe a você decidir se vai querer correr esse risco.

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