Páginas

sábado, 4 de dezembro de 2010

A Voz do Coração

A infância se foi e, com ela, todos os sonhos de menina. A vida chegou aos poucos, ocupando a mente com responsabilidades e o coração com cicatrizes. Onde foram parar as estórias de emoção e amor, vividas na imaginação? Não há mais tempo para elas. Nos poucos momentos que se tem para respirar, um relâmpago de pensamentos passa tão longe que nem dá para retê-los no consciente. E vem a vontade de parar e sonhar de novo. Mas hoje não dá. Talvez amanhã, ou depois. E os dias tornam-se meses e estes, anos. E alguém dentro de você grita e esperneia e luta contra as amarras de engrenagens e ponteiros que não o deixam sair. Não existem mais sonhos? Existem, só que agora se chamam metas. Minha meta é ter uma casa. Minha meta é ter um carro. Minha meta é dar uma boa escola para meu filho. Os sonhos ainda existem, só que modificados em sua essência. Escrever também seria um sonho? Uma voz pequenininha grita em meu ouvido. Deixar o coração vagar na estrada etérea do passado real e do passado alternativo também seria um sonho? A voz grita e esperneia em meio a neurônios e tecido cardíaco. Criar um irreal com toda a força e a emoção da realidade também seria um sonho? E a voz corre todo meu corpo como se elétron fosse em um túnel de aceleração de partículas até que, com toda a energia gerada por essa corrida louca, explode em mil fagulhas de fantasias vivas; e todos esses anos de reclusão sufocante são derramados em folhas e folhas de passado e presente real e imaginário. A química da criação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário